PORTUGUÊS | LITERATURA PORTUGUESA

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Num bairro moderno de Cesário Verde - Lara Castro

 

Num Bairro Moderno

Dez horas da manhã; os transparentes

Matizam uma casa apalaçada;

Pelos jardins estacam-se as nascentes,

E fere a vista, com brancuras quentes,

A larga rua macadamizada.

 

Rez-de-chaussée repousam sossegados,

Abriram-se, nalguns, as persianas,

E dum ou doutro, em quartos estucados,

Ou entre a rama dos papéis pintados,

Reluzem, num almoço, as porcelanas.

 

Como é saudável ter o seu aconchego,

E a sua vida fácil! Eu descia,

Sem muita pressa, para o meu emprego,

Aonde eu agora quase sempre chego

Com as tonturas duma apoplexia.

 

E rota, pequenina, azafamada,

Notei de costas uma rapariga,

Que no xadrez marmóreo duma escada,

Como um retalho de horta aglomerada,

Pousara, ajoelhando, a sua giga.

 

E eu, apesar do sol, examinei-a:

Pôs-se de pé; ressoam-lhe os tamancos;

E abre-se-lhe o algodão azul da meia,

Se ela se curva, esguedelhada, feia,

E pendurando os seus bracinhos brancos.

 

Do patamar responde-lhe um criado:

«Se te convém, despacha; não converses.

Eu não dou mais.» E muito descansado,

Atira um cobre lívido, oxidado,

Que vem bater nas faces duns alperces.

 

Subitamente - que visão de artista! -

Se eu transformasse os simples vegetais,

À luz do Sol, o intenso colorista,

Num ser humano que se mova e exista

Cheio de belas proporções carnais?!

 

Bóiam aromas, fumos de cozinha;

Com o cabaz às costas, e vergando,

Sobem padeiros, claros de farinha;

E às portas, uma ou outra campainha

Toca, frenética, de vez em quando.

 

E eu recompunha, por anatomia,

Um novo corpo orgânico, aos bocados.

Achava os tons e as formas. Descobria

Uma cabeça numa melancia,

E nuns repolhos seios injectados.

 

As azeitonas, que nos dão o azeite,

Negras e unidas, entre verdes folhos,

São tranças dum belo cabelo que se ajeite;

E os nabos - ossos nus, da cor dp leite,

E os cachos de uvas - os rosários de olhos.

 

Há colos, ombros, bocas, um semblante

Nas posições de certos frutos. E entre

As hortaliças, túmido, fragrante,

Como dalguém que tudo aquilo jante,

Surge um melão, que me lembrou um ventre.

 

E, como um feto, enfim, que se dilate,

Vi nos legumes carnes tentadoras,

Sangue na ginja vívida, escarlate,

Bons corações pulsando no tomate

E dedos hirtos, rubros, nas cenouras.

 

O sol dourava o céu. E a regateira,

Como vendera a sua fresca alface

E dera o ramo de hortelã que cheira,

Voltando-se, gritou-me, prazenteira:

«Não passa mais ninguém!... Se me ajudasse?!...»

 

Eu acerquei-me dela, sem desprezo;

E, pelas duas asas a quebrar,

Nós levantámos todo aquele peso

Que ao chão de pedra resistia preso,

Com um enorme esforço muscular.

 

«Muito obrigada! Deus lhe dê saúde!»

E recebi, naquela despedida,

As forças, a alegria, a plenitude,

Que brotam dos excessos de virtude

Ou duma digestão desconhecida.

 

E enquanto sigo para o lado oposto,

E ao longe rodam as carruagens,

A pobre afasta-se, ao calor de Agosto,

Descolorida nas maçãs do rosto,

E sem quadris na saia de ramagens.

 

Um pequerrucho rega a trepadeira

Duma janela azul; e, com o ralo

Do regador, parece que joeira

Ou que borrifa estrelas; e a poeira

Que eleva nuvens alvas a incensá-lo.

 

Chegam do gigo emanações sadias,

Oiço um canário - que infantil chilrada! -

Lidam ménages entre as gelosias,

E o sol estende, pelas frontarias,

Seus raios de laranja destilada.

 

E pitoresca e audaz, na sua chita,

O peito erguido, os pulsos nas ilhargas,

Duma desgraça alegre que me incita,

Ela apregoa, magra, enfezadita,

As suas couves repolhudas, largas.

 

E, como grossas pernas dum gigante,

Sem tronco, mas atléticas, inteiras,

Carregam sobre a pobre caminhante,

Sobre a verdura rústica, abundante,

Duas frugais abóboras carneiras.

Cesário Verde

 Lara Castro

 

 

Análise do poema:

 

EXTERNA:

O poema é constituído por 20 estrofes, cada estrofe tem 5 versos (quintilha).

  Os versos são decassilábicos.

  A rima é do tipo A B A A B (rimas cruzadas e emparelhadas).

"Dez/ho/ras/ da/ ma/nhã;/os/ trans/pa/ren/tes

O esquma rimático é da forma A B A A B, sendo que existe, então, rima cruzada, emparelhada e interpolada:

 

"Dez horas da manhã; os transparentes A

 Matizam uma casa apalaçada; B

 Pelos jardins estancam-se as nascentes, A

E fere a vista, com brancuras quentes,A

A larga macadamizada." B

 

INTERNA:

tema:deambulação do sujeito poético/mulher

assunto: O sujeito poético deambula "Num bairro moderno", «pintando» uma Lisboa oitocentista, com o pituresco e figuras típicas da cidade

 

Passando agora para o poema "Num Bairro Moderno", este reflete bastante bem o parnasianismo, corrente literária que tem como finalidade a expressão do real.

Trata-se de um poema narrativo e o tema principal é a oposição ou binómio campo-cidade, estando ainda presente o tema da mulher.

A supremacia exercida pela cidade sobre o campo leva o poeta a tratar estes dois espaços em termos dicotómicos. O contacto com o campo na sua infância determina a visão que dele nos dá e a sua preferência. O campo não tem um aspeto idílico, bucólico, mas sim um espaço real, concreto e autêntico, o que lhe confere liberdade. É, então, um espaço de vitalidade, alegria, beleza, de vida saudável, ao contrário da cidade.

Deambulando, então, pela cidade de Lisboa, o sujeito poético descreve de forma minuciosa e concreta, tudo o que está à sua volta. Nos primeiros versos estão presentes o espaço e o tempo, como se o autor tivesse acabado de escolher um lugar e uma hora para retratar num quadro.

caracterização é de uma duplicidade contrastante: ela é pobre, frágil, feia e tem de trabalhar para sobreviver, mas é apresentada envolvida numa força quase épica, de "peito erguido" e "pulsos nas ilhargas", como é dito mais à frente, encarnando, pela sua castidade, a força genuína do povo trabalhador, que Cesário tão bem defende.

Este carácter puro e genuíno desta mulher deriva do facto de ela representar uma mulher do campo.

Ele começa por ver uma cabeça numa melancia, de seguida vê, nos repolhos, uns seios, vê, num melão, um ventre e consegue ainda transformar as cenouras em dedos e o tomate num coração.

 

Recursos expressivos:

 

adjetivação:

"E rota, pequenina, azafamada" (vv.16)

"Se ela se curva, esgadelhada, feia" (vv.24)

"Sem tronco, mas atléticas, inteiras" (vv.97)

 

comparação:

"Como um retalho de horta aglomerada" (vv.19)

"E, como um feto, enfim, que se dilate," (vv.56)

 

personificação:

"Que vem bater nas faces duns alperces"

 

metáfora:

"Seus raios de laranja destilada" (vv.90)

 

antítese;

"Duma desgraça alegre que me incita"

 

 

Analogias com Outros Textos

 

   Alguém diz com lentidão:

“Lisboa, sabes…”

Eu sei. É uma rapariga

descalça e leve,

um vento súbito e claro

nos cabelos,

algumas rugas finas

a espreitar-lhe os olhos,

a solidão aberta

nos lábios e nos dedos,

descendo degraus

e degraus e degraus até ao rio.Eu sei. E tu, sabias?

 

Eugénio de Andrade, in Até Amanhã, 1956

 

 Comparação dos dois Poemas

 Visão de Lisboa e Temática

 • Cesário Verde (Num bairro moderno): Lisboa é descrita de forma realista e urbana, focando no cotidiano, nas tensões sociais e na vida agitada da cidade.

• Eugénio de Andrade (Lisboa): Lisboa aparece de forma poética e simbólica, evocando memórias, luz e beleza, com uma atmosfera nostálgica.

 

Estilo e Linguagem

 • Cesário Verde: Linguagem objetiva e descritiva, com observações detalhadas da cidade e das suas dinâmicas sociais.

• Eugénio de Andrade: Linguagem abstrata e metafórica, valorizando as sensações e emoções ligadas à cidade.

segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Poveirinhos

 

Análise do Poema “Poveirinhos” de António Nobr

 

·        Análise do Poema

 

Poveirinhos! meus velhos pescadores! 
Na água quisera com vocês morar:
Trazer o lindo gorro de três cores,
Mestre da lancha Deixem-nos passar!

Far-me-ia outro, que os vossos interiores
De há tantos tempos devem já estar
Calafetados pelo breu das dores,
Como esses pongos em que andais no mar!

Ó meu Pai, não ser eu dos poveirinhos!
Não seres tu, para eu o ser, poveiro,
Mailo irmão do "Senhor de Matosinhos"!

No alto mar, às trovoadas, entre gritos,
Prometermos, Si o barco fori intieiro,
Nossa bela à Sinhora dos Aflitos!

 

 

 

Tema: O trabalho dos pescadores, O desejo do sujeito poético de ser como eles

 

Assunto: Neste poema, o sujeito poético louva os pescadores através de uma enunciação, ou seja, do desejo de ser como eles (v.2 /v.9). Com efeito, o “eu” poético vai elogiando os pescadores destacando o quão árduo é o seu trabalho (v.12). Por fim, o enunciador demonstra ainda, de forma subentendida, dirigindo-se ao pai, a frustração que sente por não ser um “poveirinho” (vv. 9-11).

 

Recursos Expressivos: Este soneto, apresenta diversos recursos expressivos. Dentre eles estão:

·        Hipérbole- “No alto mar, às trovoadas, entre gritos” - (v.12) - Este recurso é utilizado com intuito de salientar o perigo que os pescadores passavam em alto mar, elogiando assim o seu trabalho.

 

·        Metáfora- “Na água quisera com Vocês morar” - (v.2) - Este recurso é utilizado com intuito de enfatizar o desejo do sujeito poético de ser um poveirinho.

 

 

·        Metáfora - Calafetados pelo breu das dores” - (v.7) – Este recurso é utilizado com intuito de intensificar o difícil trabalho dos pescadores.

 

·        Apóstrofe- “Poveirinhos!” – (v.1) – Este recurso é utilizado com intuito de identificar o interlocutor do sujeito poético.

 

Tipo de Rima

·        Este poema é um soneto, ou seja, é um texto poético que contém duas quadras e dois tercetos respetivamente.

·        
Poveirinhos! meus velhos pescadores! - A 
Na água quisera com vocês morar: - B
Trazer o lindo gorro de três cores, - A
Mestre da lancha Deixem-nos passar! -B





Quanto à rima, é cruzada em todo o poema


 

·        Estilo e Linguagem

·         Neste poema, é revelado um interesse pelo provinciano e popular. O autor valoriza a cultura portuguesa e as suas tradições, nomeadamente a referência principal aos Poveirinhos, que são pescadores naturais da Póvoa de Varzim. Além disso, António Nobre faz também referência a figuras da mitologia popular portuguesa, como o Senhor de Matosinhos e a “Sinhora” dos Aflitos. Quanto à linguagem, o poeta utiliza uma linguagem simples, direta e coloquial. O tom coloquial utilizado pelo sujeito poético verifica-se, por exemplo no verso 9, onde se dirige diretamente ao pai.

 

·        Analogia com outros textos

 

·         Os Pescadores- Raul Brandão – Raul Brandão, é um dos autores portugueses que mais se dedicou a explorar a realidade do povo português que vive do mar. Em “Os Pescadores”, Brandão descreve a dureza da vida dos pescadores e a sua íntima relação com o mar, que é ao mesmo tempo fonte de sustento e ameaça constante. Tal como em “Poveirinhos”, Brandão utiliza uma linguagem que transmite o realismo a compaixão e uma empatia profunda pela vida dos pescadores, explorando os dilemas e as dificuldades enfrentadas por estes homens.

 

·         Gente Feliz com Lágrimas – João de Melo – Embora este romance seja focado da experiência dos emigrantes açorianos, há uma forte ligação entre o povo e o mar, além de uma visão semelhante de luta e tristeza que perpassa a narrativa. Como em “Poveirinhos” a obra de João de Melo apresenta o mar como um limite físico e psicológico, símbolo das dificuldades e dos sonhos de um povo.

 

·         Mar Português – Fernando Pessoa – Embora seja retratado de maneira distinta, o mar está presente em ambos estes poemas. Para Fernando Pessoa o mar é uma metáfora de um passado glorioso, além de ser um símbolo de patriotismo. Por outro lado, António Nobre foca-se na dureza da vida do pescador humilde. Contudo apesar das diferenças estes dois textos celebram o mar.

sábado, 2 de novembro de 2024

Ideal- Antero de Quental- David Machado

 Ideal- Antero de Quental- David Machado


Aquela que eu adoro não é feita

De lírios nem de rosas purpurinas,

Não tem as formas lânguidas, divinas,

Da antiga Vénus de cintura estreita…


Não é a Circe, cuja mão suspeita

Compõe filtros mortas entra ruínas,

Nem a Amozona , que se agarra às crinas 

Dum corcel e combate satisfeita…


A mim mesmo pergunto, e não atino

Com o nome que dê a essa visão,

Que ora amostra ora esconde o meu destino…


É como uma miragem que entrevejo,

Ideal, que nasceu na solidão,

Nuvem, sonho impalpável de Desejo…



Análise do Poema:

O tema deste poema é a idealização do amor ou  da mulher amada.


Nas duas primeiras quadras o "eu" lírico faz uma descrição da mulher amada, referindo aspetos que a mesma não possui. 

Já no primeiro terceto o poeta faz um autoquestionamento sobre o poder que a amada tem sobre ele e no seu destino.

No último terceto o sujeito poético refere a amada como um ser inalcançável.


Este poema é constituído por duas quadras e dois tercetos, logo é um soneto. É composto por rima emparelhada e interpolada nas quadras (ABBA)  (ABBA) e rima cruzada e interpolada no tercetos (CDC) (EDE) e contem versos decassilábicos.


Alguns recursos expressivos presentes neste poema são a comparação presente no verso 14 " È como uma miragem que entrevejo", dupla adjetivação no verso 3 "...lânguidas, divinas".


Recursos utilizados:


ChatGPT

Antero de Quental by Maria Furtado on Prezi



sexta-feira, 1 de novembro de 2024

"nox" Antero de Quental- Maria Magalhães

 O poema "nox" de Antero de Quental é um soneto constituído por duas quadras, e 2 tercetos sendo que o mesmo age como uma chave de ouro, o esquema rimatico é ABBA ABBA CDC EDE com rima interpolada em ABBA, e cruzada em CDC e EDE. Constituído por versos decassilabos podendo ainda ser dividido em 2 partes, as duas primeiras quadras, onde o eu lírico, considera cruel a realidade que o rodeia e dirige-se à Noite, realçando a sua angústia por não conseguir travar “tantos ásperos tormentos”, desejando, assim a Morte, e a segunda parte, os dois últimos tercetos onde é então apresentada como resposta libertadora para o sofrimento do eu poético: “E ele, o Mundo, sem mais lutar nem ver,/Dormisse no teu seio inviolável”.

O tema é a angústia existêncial do sujeito poético, na primeira estrofe o eu lirico fala de uma luta constante e desgastante, marcada por "agonia" e "tormentos". Ele descreve essa luta como "estéril" e os tormentos como "inúteis" (VV. 2-4), vendo a noite como um porto seguro onde a dor e o sofrimento podem ser temporariamente esquecidos. A noite "abafa os lamentos", oferecendo uma trégua (VV. 5-6) e ao perceber que o alívio que a noite traz é apenas temporário, o eu lírico começa a desejar uma escuridão eterna, uma paz que não seja apenas um intervalo, mas que perdure para sempre, logo, a morte(VV. 9-10). Por fim, os versos finais encerram o poema com a ideia de uma paz total, onde a existência e a consciência se apagam, e com elas, toda a dor e o sofrimento que o dia e a vida trazem.

As funções sintáticas presentes são associando-se à metáfora “trágica enxovia”, que realça a ideia de que a vida se tornou uma prisão, um lugar de sofrimento, alimentado por um “eterno Mal”, que, personificado, “ruge e desvaria”, a interjeição “Oh!” que introduz a segunda parte do soneto e é utilizada a fim de salientar o desânimo do sujeito poético, "noite" que funciona como vocativo (v-1), personificação(v-6) e apóstrofe (v-1) e "tu" também usado como apóstrofe e demonstram a proximidade que o sujeito lírico tem a mesma tal noite.

E para terminar é possível fazer analogia com o poema "Clepsidra" de Camilo Pessanha uma vez que o mesmo também aborda a fragilidade da vida e o desejo pelo esquecimento e pela paz, refletindo um desencanto similar ao de Antero.

Hino À Razão- Antero De Quental, Andreia Fernandes


Hino À Razão


Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece,
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre, só a ti submissa.
     
Por ti é que a poeira movediça
De astros e sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.
     
Por ti, na arena trágica, as nações 
Buscam a liberdade, entre clarões; 
E os que olham o futuro e cismam, mudos,
     
Por ti, podem sofrer e não se abatem, 
Mãe de filhos robustos, que combatem 
Tendo o teu nome escrito em seu escudos!


Análise da estrutura interna: 

Primeiramente, na primeira quadra o sujeito poético refere que só será possível atingir o bem se a Razão, o Amor e a Justiça estiverem lado a lado. Já na segunda quadra, destaca a importância da Razão afirmando que tudo é possível graças a ela, aqui também é possível observar que já não é a primeira vez que o poeta implora pela razão. Por fim, nos dois últimos tercetos o "eu" lírico menciona os dois lados da Razão, no primeiro terceto o lado negativo, onde muitas pessoas sofrem a tentar alcançá-la, e no segundo terceto o lado positivo, onde os indivíduos podem sofrer mas mantém a esperança de alcançar a Razão. Assim, é possível dividir o poema em duas partes: a primeira parte as duas quadras e a segunda parte os dois tercetos. Finalmente, este poema tem tendência luminosa, ou seja, é vertido em um soneto otimista, banhado pela luz da Razão. 

Tema:

Tendência Diurna- otimismo; Razão 


Assunto: Ao longo do poema o sujeito poético homenageia a Razão referindo que tudo o que existe é graças a ela.


Recursos expressivos:


-Metáforas

  • "Poeira movediça de astros e sóis e mundos": Esta metáfora sugere o movimento constante do universo, que é mantido pela Razão.

  • "Arena trágica": Pode ser interpretada de várias formas. A palavra "arena" evoca a imagem de um campo de batalha ou de um local onde ocorrem competições e combates, como nos antigos coliseus romanos. "Trágica" sugere que esses conflitos são intensos, sérios e muitas vezes dolorosos, indicando as lutas e os sacrifícios enfrentados pelas nações em busca da liberdade. Ou, a palavra "trágica" também carrega conotações de tragédia no sentido literário, referindo-se a histórias de sofrimento, heroísmo e sacrifício. Isso sugere que as ações dentro dessa "arena" não são apenas físicas, mas também carregadas de grande significado emocional e moral.

  • "Tendo o teu nome escrito em seu escudos!" Os escudos são tradicionalmente usados para proteção em batalhas. Ter o nome da Razão escrito nos escudos indica que aqueles que combatem são protegidos e guiados por ela. Os escudos também podem simbolizar a identidade e o orgulho. Escrever o nome da Razão nos escudos sugere que os combatentes  orgulham-se de serem guiados pela Razão e consideram uma parte fundamental de quem eles são. 

-Personificação

  • "A flor do heroísmo medra e viça": A personificação do heroísmo como uma flor que cresce e floresce, indicando o desenvolvimento e a prosperidade das ações heroicas.

-Enumeração

  • "Astros e sóis e mundos": Enfatiza a imensidão e a diversidade dos elementos do universo.

-Apóstrofe

  • "Razão": Estabelecer um tom de intimidade e súplica.
-Anáfora
  • "Por ti": Enfatiza a importância da Razão.

Análise da estrutura externa: 


A composição poética é composta por duas quadras e dois tercetos, ou seja, um soneto. É constituído por dois tipos de rima:  ABBA, ABBA, CCD, EED- rima emparelhada nos versos em A e D e interpolada nos versos em B, C, E. Para além disso o soneto é composto por versos decassilábicos. Ex: Ra/zão,/ ir/mã/ do A/mor/ e /da /Jus/ti/(ça)


Analogia com outros textos:


Diversas obras literárias e filosóficas que exploram temas semelhantes.“Assim Falou Zaratustra” de Friedrich Nietzsche. Esta obra explora profundas reflexões sobre a existência humana e a busca pela verdade. “O Prelúdio” de William Wordsworth. Este poema autobiográfico reflete a jornada de vida do poeta e as suas reflexões sobre a natureza, a memória e o crescimento pessoal. Ambos os poemas convidam os leitores a contemplar o significado mais profundo da vida e das experiências humanas. 



recursos utilizados:
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Cesário Verde-De Tarde- Telma Costa

De Tarde 

Naquele piquenique de burguesas,

Houve uma coisa simplesmente bela,

E que, sem ter história nem grandezas,

Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,

Foste colher, sem imposturas tolas,

A um granzoal azul de grão-de-bico

Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,

Nós acampámos, inda o Sol se via;

E houve talhadas de melão, damascos,

E pão-de-ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro a sair da renda

Dos teus dois seios como duas rolas,

Era o supremo encanto da merenda

O ramalhete rubro das papoulas!


Tematicas abordadas

A mulher e a oposição cidade/campo

"De Tarde" é a representação impressionista de um cenário campestre em que se movem figuras que participam numa merenda E à impressão visual que e atribuída a maior importância,assim como as condições de observação e ao quotidiano.

O sujeito poético estabelece uma analogia entre o cenário e uma aguarela, salientando-se a força das cores azul e vermelha, e também do amarelo e do dourado ("sol";"...talhadas de melão") e da subentendida cor branca da renda e dos seios "como duas rolas".Mas o ponto central do cenário é a mancha vermelha (cor quente) do "ramalhete das papoulas", cuja colocação no vértice do decote, assume conotações de alguma sensualidade.


Estrutura externa

• 4 quadras;

• Versos decassilábicos :

Um/ ra/ma/lhe/te/ ru/bro/ de/pa/pou/las

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

• Rima cruzada em todas as estrofes : ABAB

• Rima alternadamente pobre e rica nas 3 primeiras estrofes e apenas pobre na última.


Estrutura lnterna

O poema pode dividir-se em 3 partes:

•1° quadra: apresentação do cenário

A 1°quadra constitui uma introdução, que nos apresenta o texto como uma aguarela representativa de uma "pic-nic de burguesas 'em que "houve uma coisa simplesmente bela";

• 2° e 3° quadras: o eu poético faz uma pequena descrição dos elementos que compõem a merenda;

• 4° quadra: "o supremo encanto da merenda"

A 4° quadra refere-se à "coisa simplesmente bela "que ficou daquela merenda" o ramalhete rubro das papoulas", símbolo da sensualidade, destacando-se a cor vermelha , remetendo para o calor dos seios da figura feminina.


Recursos utilizados:

https://prezi.com/kze4mifsjxm1/cesario-verde-analise-do-poema-de-tarde/