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segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Poveirinhos

 

Análise do Poema “Poveirinhos” de António Nobr

 

·        Análise do Poema

 

Poveirinhos! meus velhos pescadores! 
Na água quisera com vocês morar:
Trazer o lindo gorro de três cores,
Mestre da lancha Deixem-nos passar!

Far-me-ia outro, que os vossos interiores
De há tantos tempos devem já estar
Calafetados pelo breu das dores,
Como esses pongos em que andais no mar!

Ó meu Pai, não ser eu dos poveirinhos!
Não seres tu, para eu o ser, poveiro,
Mailo irmão do "Senhor de Matosinhos"!

No alto mar, às trovoadas, entre gritos,
Prometermos, Si o barco fori intieiro,
Nossa bela à Sinhora dos Aflitos!

 

 

 

Tema: O trabalho dos pescadores, O desejo do sujeito poético de ser como eles

 

Assunto: Neste poema, o sujeito poético louva os pescadores através de uma enunciação, ou seja, do desejo de ser como eles (v.2 /v.9). Com efeito, o “eu” poético vai elogiando os pescadores destacando o quão árduo é o seu trabalho (v.12). Por fim, o enunciador demonstra ainda, de forma subentendida, dirigindo-se ao pai, a frustração que sente por não ser um “poveirinho” (vv. 9-11).

 

Recursos Expressivos: Este soneto, apresenta diversos recursos expressivos. Dentre eles estão:

·        Hipérbole- “No alto mar, às trovoadas, entre gritos” - (v.12) - Este recurso é utilizado com intuito de salientar o perigo que os pescadores passavam em alto mar, elogiando assim o seu trabalho.

 

·        Metáfora- “Na água quisera com Vocês morar” - (v.2) - Este recurso é utilizado com intuito de enfatizar o desejo do sujeito poético de ser um poveirinho.

 

 

·        Eufemismo- Calafetados pelo breu das dores” - (v.7) – Este recurso é utilizado com intuito de intensificar o difícil trabalho dos pescadores.

 

·        Apóstrofe- “Poveirinhos!” – (v.1) – Este recurso é utilizado com intuito de identificar o interlocutor do sujeito poético.

 

Tipo de Rima

·        Este poema é um soneto, ou seja, é um texto poético que contém duas quadras e dois tercetos respetivamente.

·        
Poveirinhos! meus velhos pescadores! - A 
Na água quisera com vocês morar: - B
Trazer o lindo gorro de três cores, - A
Mestre da lancha Deixem-nos passar! -B





Quanto à rima, é cruzada em todo o poema


 

·        Estilo e Linguagem

·         Neste poema, é revelado um interesse pelo provinciano e popular. O autor valoriza a cultura portuguesa e as suas tradições, nomeadamente a referência principal aos Poveirinhos, que são pescadores naturais da Póvoa de Varzim. Além disso, António Nobre faz também referência a figuras da mitologia popular portuguesa, como o Senhor de Matosinhos e a “Sinhora” dos Aflitos. Quanto à linguagem, o poeta utiliza uma linguagem simples, direta e coloquial. O tom coloquial utilizado pelo sujeito poético verifica-se, por exemplo no verso 9, onde se dirige diretamente ao pai.

 

·        Analogia com outros textos

 

·         Os Pescadores- Raul Brandão – Raul Brandão, é um dos autores portugueses que mais se dedicou a explorar a realidade do povo português que vive do mar. Em “Os Pescadores”, Brandão descreve a dureza da vida dos pescadores e a sua íntima relação com o mar, que é ao mesmo tempo fonte de sustento e ameaça constante. Tal como em “Poveirinhos”, Brandão utiliza uma linguagem que transmite o realismo a compaixão e uma empatia profunda pela vida dos pescadores, explorando os dilemas e as dificuldades enfrentadas por estes homens.

 

·         Gente Feliz com Lágrimas – João de Melo – Embora este romance seja focado da experiência dos emigrantes açorianos, há uma forte ligação entre o povo e o mar, além de uma visão semelhante de luta e tristeza que perpassa a narrativa. Como em “Poveirinhos” a obra de João de Melo apresenta o mar como um limite físico e psicológico, símbolo das dificuldades e dos sonhos de um povo.

 

·         Mar Português – Fernando Pessoa – Embora seja retratado de maneira distinta, o mar está presente em ambos estes poemas. Para Fernando Pessoa o mar é uma metáfora de um passado glorioso, além de ser um símbolo de patriotismo. Por outro lado, António Nobre foca-se na dureza da vida do pescador humilde. Contudo apesar das diferenças estes dois textos celebram o mar.

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