De Tarde
Naquele piquenique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Tematicas abordadas
A mulher e a oposição cidade/campo
"De Tarde" é a representação impressionista de um cenário campestre em que se movem figuras que participam numa merenda E à impressão visual que e atribuída a maior importância,assim como as condições de observação e ao quotidiano.
O sujeito poético estabelece uma analogia entre o cenário e uma aguarela, salientando-se a força das cores azul e vermelha, e também do amarelo e do dourado ("sol";"...talhadas de melão") e da subentendida cor branca da renda e dos seios "como duas rolas".Mas o ponto central do cenário é a mancha vermelha (cor quente) do "ramalhete das papoulas", cuja colocação no vértice do decote, assume conotações de alguma sensualidade.
Estrutura externa
• 4 quadras;
• Versos decassilábicos :
Um/ ra/ma/lhe/te/ ru/bro/ de/pa/pou/las
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
• Rima cruzada em todas as estrofes : ABAB
• Rima alternadamente pobre e rica nas 3 primeiras estrofes e apenas pobre na última.
Estrutura lnterna
O poema pode dividir-se em 3 partes:
•1° quadra: apresentação do cenário
A 1°quadra constitui uma introdução, que nos apresenta o texto como uma aguarela representativa de uma "pic-nic de burguesas 'em que "houve uma coisa simplesmente bela";
• 2° e 3° quadras: o eu poético faz uma pequena descrição dos elementos que compõem a merenda;
• 4° quadra: "o supremo encanto da merenda"
A 4° quadra refere-se à "coisa simplesmente bela "que ficou daquela merenda" o ramalhete rubro das papoulas", símbolo da sensualidade, destacando-se a cor vermelha , remetendo para o calor dos seios da figura feminina.
Recursos utilizados:
https://prezi.com/kze4mifsjxm1/cesario-verde-analise-do-poema-de-tarde/
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