Análise do poema Idílio
Poema:
Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,
Colher nos vales lírios e boninas,
E galgamos dum fôlego as colinas
Dos rocios da noite inda orvalhadas;
Ou, vendo o mar das ermas cumeadas
Contemplamos as nuvens vespertinas,
Que parecem fantásticas ruínas
Ao longo, no horizonte, amontoadas:
Quantas vezes, de súbito, emudeces!
Não sei que luz no teu olhar flutua;
Sinto tremer-te a mão e empalideces
O vento e o mar murmuram orações,
E a poesia das coisas se insinua
Lenta e amorosa em nossos corações.
Tema: amor
Assunto: neste soneto é possível observar momentos de tranquilidade entre o “eu” e a mulher conjugando o seu amor com o cenário. Nele também podemos perceber que o casal não tem apenas uma união física (v.1 “de mãos dadas”) mas também espiritual demonstrando proximidade entre eles (v.6 “contemplamos”).
É possível dividir o poema em três partes, sendo elas constituídas pelas primeiras quadras, o primeiro terceto e o segundo terceto.
Nas duas primeiras quadras está presente não só a narração mas também uma forte descrição do cenário em que os amantes se encontram (v.4 “da noite inda orvalhada”, v.6 “nuvens vespertinas” e v.7 “fantásticas ruínas”) trazendo assim um certo misticismo que faz lembrar a natureza dos românticos.
No primeiro terceto, a companheira demonstra um comportamento estranho perturbando o sujeito poético que não entende o motivo da sua inquietação (v.9-11 “de súbito emudeces!” “Não sei que luz no teu olhar flutua” “sinto tremer-te a mão e empalideces…”).
Já no último terceto o clima romântico é restabelecido com a utilização da personificação do vento e do mar (v.12 “o vento e o mar murmuram orações”), uma vez que o mesmo demonstra, junto com o espaço, uma harmonia entre o casal. Além disso, o último verso, com o auxílio dupla adjetivação(v.14 “lenta e amorosa”) evidencia o amor e a tranquilidade entre o poeta e a amada.
Se observarmos mais a fundo os recursos expressivos podemos ver que este soneto além da personificação do vento e do mar (v.12) e da dupla adjetivação (v.14) contém também metáforas (v.12 “o vento e o mar murmuram orações”), um dos recursos constantes no estilo de Antero de Quental.
Este soneto é constituído pelo esquema rimático ABBA nas quadras, CDC no primeiro terceto e EDE.
Quanto à analogia, este soneto tem uma similaridade com as cantigas de amigo, uma vez que tal como acontece neste poema com o mar e o vento, a natureza surgia constantemente parece unificada. Um exemplo disso é a cantiga “Ai flores Ai flores de verde pino”, onde a árvore que contém essas flores fala com a mulher tal como o mar e o vento murmuravam orações ao casal.
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