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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Idílio-Antero de Quental, Adriana Teixeira

 Análise do poema Idílio


Poema:

Quando nós vamos ambos, de mãos dadas,

Colher nos vales lírios e boninas,

E galgamos dum fôlego as colinas

Dos rocios da noite inda orvalhadas;


Ou, vendo o mar das ermas cumeadas

Contemplamos as nuvens vespertinas,

Que parecem fantásticas ruínas

Ao longo, no horizonte, amontoadas:


Quantas vezes, de súbito, emudeces!

Não sei que luz no teu olhar flutua;

Sinto tremer-te a mão e empalideces


O vento e o mar murmuram orações,

E a poesia das coisas se insinua

Lenta e amorosa em nossos corações.


Tema: amor

Assunto: neste soneto é possível observar momentos de tranquilidade entre o “eu” e a mulher conjugando o seu amor com o cenário. Nele também podemos perceber que o casal não tem apenas uma união física (v.1 “de mãos dadas”) mas também espiritual demonstrando proximidade entre eles (v.6 “contemplamos”). 

É possível dividir o poema em três partes, sendo elas constituídas pelas primeiras quadras, o primeiro terceto e o segundo terceto.

Nas duas primeiras quadras está presente não só a narração mas também uma forte descrição do cenário em que os amantes se encontram (v.4 “da noite inda orvalhada”, v.6  “nuvens vespertinas” e v.7 “fantásticas ruínas”) trazendo assim um certo misticismo que faz lembrar a natureza dos românticos.

No primeiro terceto, a companheira demonstra um comportamento estranho perturbando o sujeito poético que não entende o motivo da sua inquietação (v.9-11 “de súbito emudeces!” “Não sei que luz no teu olhar flutua” “sinto tremer-te a mão e empalideces…”).

Já no último terceto o clima romântico é restabelecido com a utilização da personificação do vento e do mar (v.12 “o vento e o mar murmuram orações”), uma vez que o mesmo demonstra, junto com o espaço, uma harmonia entre o casal. Além disso, o último verso, com o auxílio dupla adjetivação(v.14 “lenta e amorosa”) evidencia o amor e a tranquilidade entre o poeta e a amada.

Se observarmos mais a fundo os recursos expressivos podemos ver que este soneto além da personificação do vento e do mar (v.12) e da dupla adjetivação (v.14) contém também metáforas (v.12 “o vento e o mar murmuram orações”), um dos recursos constantes no estilo de Antero de Quental.

Este soneto é constituído pelo esquema rimático ABBA nas quadras, CDC no primeiro terceto e EDE.

Quanto à analogia, este soneto tem uma similaridade com as cantigas de amigo, uma vez que tal como acontece neste poema com o mar e o vento, a natureza surgia constantemente parece unificada. Um exemplo disso é a cantiga “Ai flores Ai flores de verde pino”, onde a árvore que contém essas flores fala com a mulher tal como o mar e o vento murmuravam orações ao casal.


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