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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Viola chinesa- Camilo Pessanha

Viola chinesa- Camilo Pessanha


Viola chinesa

Ao longo da viola morosa

Vai adormecendo a parlenda,

Sem que, amadornado, eu atenda

A lengalenga fastidiosa.


Sem que o meu coração se prenda,

Enquanto, nasal, minuciosa,

Ao longo da viola morosa,

Vai adormecendo a parlenda.


Mas que cicatriz melindrosa

Há nele, que essa viola ofenda

E faz que as asitas distenda

Numa agitação dolorosa?


Ao longo da viola, morosa...

A obra de Camilo Pessanha é marcada pela visão desencantada da vida, um sentimento de perda constante .No poema Viola Chinesa”, esse tom é frequentemente presente na sugestão de algo passageiro e delicado, que é ao mesmo belo e inatingível. 

A musicalidade da própria “viola” é um símbolo do desejo de eternidade, mas também da inevitável passagem do tempo.

A comparação com “Vaga, no azul amplo solta”, outro poema de Pessanha, revela essa busca por algo transcendente, que se pode considerar uma vaga no mar. 

Em ambos, há uma tentativa de alcançar uma beleza sublime, que se desfaz no momento em que se tenta tocá-la, sugerindo uma constante frustração e a inevitabilidade do declínio( por mais que o sujeito tente, não alcança o que deseja o que lhe causa frustração). 

“Viola chinesa” pode ser entendida como um emblema da tentativa de eternizar um sentimento que é, por natureza, passageiro e frágil.

A referência ao instrumento musical oriental sugere um som suave e delicado, uma metáfora para sentimentos que não podem ser plenamente expressos em palavras.

Como em outros poemas, como “Clepsidra” e “Esfinge”, a obra reflete a efemeridade(que dura pouco tempo) e a frustração com a passagem do tempo.

“Viola Chinesa”, o poeta faz uso de imagens que sugerem uma atmosfera distante, quase irreal, como se evocasse um sonho ou um devaneio. A referência à cultura chinesa não é apenas exótica; ela carrega um sentido de alteridade e distanciamento, uma tentativa de captar uma essência que está além do alcance do entendimento racional.

No poema “Viola Chinesa”, Camilo Pessanha usa recursos expressivos como:

1. Musicalidade e Ritmo: Aliterações e assonâncias que  criam um ritmo suave e fluido, relembrando o som delicado de uma viola.

2. Metáfora: A “viola chinesa” simboliza algo delicado e efêmero, sugerindo a expressão de sentimentos profundos e intangíveis.

3. Repetição: O uso de repetições reforça a cadência( tentação) melancólica e a sensação de lamento e nostalgia.




 IMAGENS QUE PASSAIS PELA RETINA 

 

Imagens que passais pela retina  
Dos meus olhos, porque não vos fixais?  
Que passais como a água cristalina  
Por uma fonte para nunca mais!... 
 
Ou para o lago escuro onde termina  
Vosso curso, silente de juncais,  
E o vago medo angustioso domina, 
— Porque ides sem mim, não me levais? 
 
Sem vós o que são os meus olhos abertos? 
— O espelho inútil, meus olhos pagãos!  
Aridez de sucessivos desertos... 
 
Fica, sequer, sombra das minhas mãos, 

Flexão casual de meus dedos incertos, 
— Estranha sombra em movimentos vãos. 

 

No soneto «imagens que passais pela retina» de Camilo Pessanha, o eu lírico exprime a sua vontade de morrer devido á perda das imagens. 

Na primeira quadra o sujeito poético enuncia o destinatário, ou seja, as imagens (v.1 «imagens que passais pela retina»), o mesmo mostra a rapidez em que as imagens desaparecem, o que é possível observar na interrogação presente no segundo verso («dos meus olhos, porque não vos fixais?»). Ele refere, também, a morte das mesmas ( vv. 4/5 «... para nunca mais! Ou para o lago escuro onde termina»), o que se perlonga á quadra seguinte. 

Na segunda quadra o eu questiona-se pelo facto de as imagens partirem sem ele (v.8 «Porque ides sem mim, me levais?») o que transmite o desejo de querer suspender a vida da morte    

No primeiro terceto, o sujeito declara que sem as imagens os seus olhos não tem utilidade (v.9 «Sem vós o que são os meus olhos abertos?».   

Por fim, no último terceto o autor remete para a falência do olhar, uma vez que, o eu as sombras das mãos (vv. 12-13). Percebe-se também a falta que a imagem faz ao sujeito poético, pois, leva á falência da escrita e á falta de visão pelo facto de o eu só ver as sombras. Neste poema, Camilo, refere também a musicalidade. 

 

Este poema esta dividido em duas partes, o que compõe as primeiras duas estrofes, visto que, nas primeiras quadras o sujeito lírico fala ausência e da falta das imagens. Já nas últimas estrofes o eu remete para a falência do olhar, pois, só via as sombras das mãos.  

 

Para além disso o poema é decassílabo: 

I/ma/gens/ que/ pa/ssais/ pe/la/ re/ti/na 

1   2     3          4      5     6         7    8   9   10 

 

Dos/ meus/ o/lhos/, por/que/ não/ vos/ fi/xais?/ 

1       2         3     4        5       6       7      8       9     10  

Setentrional de Cesário Verde- Maria João Costa


CESÁRIO VERDE (1855-1886)

Setentrional

Talvez já te não lembres, triste Helena,

Dos passeios que dávamos sozinhos,

À tardinha, naquela terra amena,

No tempo da colheita dos bons vinhos.


Talvez já te não lembres, pesarosa,

Da casinha caiada em que moramos,

Nem do adro da ermida silenciosa,

Onde nós tantas vezes conversamos.


Talvez já te esquecesses, ó bonina,

Que viveste no campo só comigo,

Que te osculei a boca purpurina,

E que fui o teu sol e o teu abrigo.


Que fugiste comigo da Babel,

Mulher como não há nem na Circássia,

Que bebemos, nós dois, do mesmo fel,

E regamos com prantos uma acácia.


Talvez já te não lembres com desgosto

Daquelas brancas noites de mistério,

Em que a Lua sorria no teu rosto

E nas lajes campais do cemitério.


Talvez já se apagassem as miragens

Do tempo em que eu vivia nos teus seios,

Quando as aves cantando entre as ramagens

O teu nome diziam nos gorjeios.


Quando, à brisa outoniça, como um manto,

Os teus cabelos de âmbar, desmanchados,

Se prendiam nas folhas dum acanto,

Ou nos bicos agrestes dos silvados.


E eu ia desprendê-los, como um pajem

Que a cauda solevasse aos teus vestidos,

E ouvia murmurar à doce aragem

Uns delírios de amor, entristecidos.


Quando eu via, invejoso, mas sem queixas,

Pousarem 'borboletas doidejantes

Nas tuas formosíssimas madeixas,

Daquela cor das messes lourejantes.


E no pomar, nós dois, ombro com ombro,

Caminhávamos sós e de mãos dadas,

Beijando os nossos rostos sem assombro,

E colorindo as faces desbotadas.


Quando Helena, bebíamos, curvados,

As águas nos ribeiros remansosos,

E, nas sombras, olhando os céus amados

Contávamos os astros luminosos.


Quando, uma noite, em êxtases caímos

Ao sentir o chorar dalgumas fontes,

E os cânticos das rãs que sobre os limos

Quebravam a solidão dos altos montes.


E assentados nos rudes escabelos,

Sob os arcos de murta e sobre as relvas,

Longamente sonhamos sonhos belos,

Sentindo a fresquidão das verdes selvas.


Quando ao nascer da aurora, unidos ambos

Num amor grande como um mar sem praias

Ouvíamos os meigos ditirambos

Que os rouxinóis teciam nas olaias.


E, afastados da aldeia e dos casais,

Eu contigo, abraçado como as heras,

Escondidos nas ondas dos trigais.

Devolvia-te os beijos que me deras.


Quando, se havia lama no caminho,

Eu te levava ao colo sobre a greda,

E o teu corpo nevado como arminho

Pesava menos que um papel de seda.


Talvez já te esquecesses dos poemetos,

Revoltos como os bailes do Cassino,

E daqueles byrônicos sonetos

Que eu gravei no teu peito alabastrino.


De tudo certamente te esqueceste,

Porque tudo no mundo morre e muda,

E agora és triste e só como um cipreste,

E como a campa jazes fria e muda.


Esqueceste-te, sim, meu sonho querido,

Que o nosso belo e lúcido passado

Foi um único abraço comprimido,

Foi um beijo, por meses, prolongado.


E foste sepultar-te, ó serafim,

No claustro das Fiéis emparedadas,

Escondeste o teu rosto de marfim

No véu negro das freiras resignadas.


E eu passo tão calado como a Morte

Nesta velha cidade tão sombria,

Chorando aflitamente a minha sorte

E prelibando o cálix da agonia,


E, tristíssima Helena, com verdade,

Se pudera na terra achar suplícios,

Eu também me faria gordo frade

E cobriria a carne de cilícios.


Interpretação : 

O poema "Setentrional" de Cesário Verde é uma obra significativa da poesia portuguesa do século XIX, que faz parte de “ O livro de Cesário Verde”. Nele, o autor descreve um casal que se transformou com a mudança do campo para a cidade. As palavras do poeta descrevem a vivência de um sentimento que outrora foi intenso, mas que agora se perdeu nas lembranças de duas almas apaixonadas.

 Ao longo do poema apresentado o eu lírico dirige-se à mulher amada, com um tom melancólico e nostálgico. Nas primeiras estrofes o sujeito poético recorda os bons momentos que passou com Helena no campo, cenário do amor e da felicidade deste casal. Ele relembra os passeios e a casa onde no passado morou com a Helena (“Talvez já te não lembres, triste Helena/Dos passeios que dávamos sozinhos” versos 1 e 2) (“Talvez já te não lembres, pesarosa,/Da casinha caiada em que moramos” versos 5 e 6) . O ”eu” descreve o campo como símbolo do amor, uma vez que lá  viveu  tempos felizes com a mulher amada. Contudo, nas últimas  estrofes o cenário altera-se, e  consequentemente, o sentimento também. Ao ir para cidade, o amor dá lugar à tristeza, uma vez que o objeto do seu amor tornou-se distante (“E agora és triste e só como um cipreste,/E como a campa jazes fria e muda.). O sujeito lírico revela que a amada se mudou para o convento, que para ele é um sinônimo de sepultura, uma vez que tal como uma, ela não fala. Através do vocábulo “ resignadas” ele expressa um ato de censura.(“ E foste sepultar-te, ó serafim,/No claustro das Fieis emparedadas,

/Escondeste o teu rosto de marfim/No véu negro das freiras resignadas.”). Já para o “eu” a cidade sem a amada é um sinónimo de morte e sofrimento(“E eu passo tão calado como a Morte”).

  O contraste entre o  campo e a cidade pode ser interpretado como uma metáfora para as fases do amor: enquanto o campo é cenário do afeto puro, intenso e eterno, a cidade simboliza o momento em que o amor se torna impossível e agonizante. A cidade, “velha” e “sombria,” passa a simbolizar a ausência da Helena e o vazio deixado pela separação. Assim, a alegria da união dá lugar à desolação profunda e irreversível.

 Temas: 

Um dos temas centrais deste poema pertence à primeira fase poética de Cesário Verde, sendo ele a crise romanesca que se estabelece no “eu” poético. Além disso, é possível destacar o contraste entre a cidade e o campo (tema), uma vez que a cidade representa a melancolia, e o campo, a paixão e a felicidade.


Recursos expressivos:

 O poema Setentrional, de Cesário Verde, está repleto de recursos expressivos que contribuem para atribuir um tom nostálgico e melancólico à obra.

  •  A repetição de “Talvez já te não lembres” no início das estrofes cria uma estrutura repetitiva que reforça a lamentação do eu-lírico. Esta anáfora sugere uma resignação e um esforço doloroso para recordar o passado, enfatizando a nostalgia e a dúvida quanto à permanência dos sentimentos da amada. 


  • O poeta utiliza várias metáforas que conferem à mulher amada elementos naturais e celestiais, associando-a à pureza, delicadeza e beleza. "Que te osculei a boca purpurina" — Ele retrata Helena como se ela fosse a própria natureza, considerando-a uma flor com lábios vermelhos.

  • Alguns elementos da natureza são personificados, criando assim uma sintonia entre o ambiente e as emoções do sujeito poético. "E a Lua sorria no teu rosto" — a Lua é personificada como um ser com emoções, refletindo a alegria do momento compartilhado. “Ouvíamos os meigos ditirambos / Que os rouxinóis teciam nas olaias” — A ação de “tecer” é atribuída aos rouxinóis, reforçando a delicadeza e o romantismo das recordações do "eu" lírico. Ao personificar os pássaros e atribuir-lhes uma intenção , Cesário Verde cria uma imagem poética que conecta os sentimentos humanos com o mundo natural.

  • Neste poema, é possível identificar várias apóstrofes, entre as quais se destaca “Ó bonina”- O vocativo “ó bonina” cria uma comunicação direta com Helena. A referência carinhosa à amada como uma flor evoca ternura e intimidade, reforçando a ligação emocional e a idealização do amor perdido.

  • A hipérbole é utilizada para expressar a grandiosidade do amor vivido: “Num amor grande como um mar sem praias” — o amor é comparado a um "mar sem praias", algo vasto e infinito, sugerindo um amor que parecia ser eterno e indomável. Além disso, neste verso também é possível identificar uma antítese entre “mar” e a “ausência de praias”. Isto simboliza um amor  sem limites, que não encontra barreiras ou contenções. Isso revela a profundidade do sentimento do "eu" lírico em relação a Helena.

  • Cesário Verde utiliza várias comparações :"E o teu corpo nevado como arminho / Pesava menos que um papel de seda" — o corpo da amada é comparado ao arminho, um pequeno animal de pele muito branco, expressando assim a sua suavidade, leveza e delicadeza.  “E agora és triste e só como um cipreste” O cipreste, uma árvore associada ao luto e à morte, representa a solidão e a tristeza de Helena. Esta comparação é usada para sugerir o estado emocional da amada, comparando-a a um símbolo de sofrimento e silêncio.


  • Cesário Verde utiliza sons repetitivos(aliteração) para criar uma sonoridade melódica e suave, que reforça o tom melancólico do poema: “E assentados nos rudes escabelos, / Sob os arcos de murta e sobre as relvas” — a repetição do som "s" cria uma musicalidade suave e traz um ritmo sereno ao verso. “Esqueceste-te, sim, meu sonho querido, / Que o nosso belo e lúcido passado” — a repetição do som "s" novamente evoca uma sensação de nostalgia e saudade.

  • A resignação final do "eu" lírico, que afirma que “se pudera na terra achar suplícios, / Eu também me faria gordo frade / E cobriria a carne de cilícios”, expressa uma ironia ao desejar infligir-se sofrimento, o que não alivia realmente sua dor. A imagem do frade contrasta com a intensidade do amor vivido, sugerindo que nada realmente substituiria o que foi perdido.

  • Apesar de não ser considerado um recurso expressivo,  o uso de referências poéticas, como os “byrônicos sonetos,” reforça a dramaticidade do poema, ao vincular esta história a uma tradição literária de amores intensos e inatingíveis.


Recursos expressivos:

Quanto ao esquema rimático, o poema analisado apresenta rima alternada(ABAB). Em relação aos versos, eles são decassílabos.


Expressividade do Título: 

A palavra Setentrional está associada à zona norte. Ao utilizar este vocábulo como título, Cesário Verde queria expressar a tranquilidade da natureza do campo, uma vez que o Norte de Portugal está repleto de áreas rurais.



Analogia com outros poemas:



Estes Sítios! - Almeida Garret

Olha bem estes sítios queridos,

Vê-os bem neste olhar derradeiro...

Ai! o negro dos montes erguidos,

Ai! o verde do triste pinheiro!

Que saudade que deles teremos...

Que saudade! ai, amor, que saudade!

Pois não sentes, neste ar que bebemos,

No acre cheiro da agreste ramagem,

Estar-se alma a tragar liberdade

E a crescer de inocência e vigor!

Oh! aqui, aqui só se engrinalda

Da pureza da rosa selvagem,

E contente aqui só vive Amor.

O ar queimado das salas lhe escalda

De suas asas o níveo candor,

E na frente arrugada lhe cresta

A inocência infantil do pudor.

E oh! deixar tais delícias como esta!

E trocar este céu de ventura

Pelo inferno da escrava cidade!

Vender alma e razão à impostura,

Ir saudar a mentira em sua corte,

Ajoelhar em seu trono à vaidade,

Ter de rir nas angústias da morte,

Chamar vida ao terror da verdade...

Ai! não, não... nossa vida acabou,

Nossa vida aqui toda ficou

Diz-lhe adeus neste olhar derradeiro,

Dize à sombra dos montes erguidos,

Dize-o ao verde do triste pinheiro,

Dize-o a todos os sítios queridos

Desta rude, feroz soledade,

Paraíso onde livres vivemos,

Oh! saudades que dele teremos,

Que saudade! ai, amor, que saudade!


É possível estabelecer uma analogia entre o  poema apresentado de autoria de Almeida Garrett, e o poema Setentrional. Em ambos os poemas, o campo e a natureza aparecem como antíteses da cidade. No poema de Cesário, o campo onde o “eu” lírico e a Helena vivem o seu amor é descrito de forma detalhada, com descrição de flores, ribeiros e montanhas que intensificam o clima idílico. Em “Estes Sítios!”, o ambiente natural é visto como um “Paraíso” onde a alma é livre e pura. Por outro lado,  a cidade é retratada de forma negativa. Em “Setentrional”, a cidade é retratada como melancólica, uma vez que o sujeito poético se encontra longe da amada. No poema de Almeida Garret a cidade é vista como o “inferno” , onde a pureza e a liberdade do amor e da alma são sacrificadas em nome da “mentira” e da “impostura”. Em ambos, a cidade simboliza tristeza enquanto a natureza representa a felicidade e a liberdade.


A Cidade e o Campo - Madredeus


Longe das aldeias, longe das casas

Ouvimos cantar todas as fontes

E na solidão dos velhos montes

Beijamos as águas dos ribeiros

Mas de tudo já esqueceste

Neste mundo tudo muda

Agora estou triste e sozinho

Nesta cidade escura e fria

Onde a vida é uma agonia

Minha vida

Vida



Além do poema “Estes sítios”, a obra Setentrional também apresenta fortes semelhanças com a música Cidade e o Campo de Madredeus, uma banda portuguesa dos anos 90 conhecida pelo seu êxito “O pastor”. Tal como no poema de Cesário Verde, esta canção retrata a vida no campo e na cidade de forma distinta. O campo é um espaço de tranquilidade e conexão com a natureza, onde a água e a solidão dos montes trazem paz e satisfação. Já a cidade representa um ambiente sombrio e hostil, um lugar de solidão e angústia onde o eu lírico sofre. Assim, os dois textos dialogam entre si usando o campo e a cidade como um gênero de alegoria, que representa o contraste entre a felicidade e a tristeza. O campo é representado como um sinônimo de amor, liberdade e harmonia, já a cidade simboliza o sofrimento, a melancolia e a nostalgia. As duas obras apresentadas exploram a transformação do amor à medida que se distanciam do campo para se perderem na solidão da cidade, como se a pureza do sentimento estivesse ligada ao ambiente rural e fosse impossível sustentá-la na frieza da vida urbana.